Piada de papagaio
Evelyn Heine

Seu João, da mercearia perto de casa, tinha um papagaio que era uma piada. Piada sem graça, pra dizer a verdade. É que o bichinho era muito do mal-humorado, diferente de todos os papagaios que a gente vê por aí. Um reclamão de marca maior!

Reclamava do preço da gasolina (e nem carro tinha).

Reclamava da conversa da vizinha.

Resmungava de dor não sei onde.

Resmungava do barulho do bonde.

Seu João bem que tentou ensinar algumas piadinhas para o louro, mas o ranzinza não achava graça de nada. Nem de piada suja nem de piada limpa. Nem de adivinha nem de pegadinha.

Se alguém contava uma de papagaio, então, aí é que o bicho se queimava.

Emburrava. Fazia uma baita cara brava!

De tão azedo, espantava a freguesia.

Seu João, coitado, ficava até com azia.

Pior ainda quando o papagaio dava pra falar da mercadoria…

– Currupaco! O tomate tem buraco!

– Cuidado… O pão é do mês passado!

Então não teve jeito. Um dia, seu João se encheu e resolveu vender o louro. Achou que trazia mau agouro. Bolou um anúncio e colocou no jornal:

Vende-se um papagaio educado que não conta piada nem fala palavrão.
Tratar na mercearia, com seu João.
Preço de ocasião.

Apareceu muita gente interessada. Gente, é claro, que não gosta de piada.

Quem chegou primeiro foi dona Gertrudes, uma mulher de poucas palavras e poucos sorrisos.

Ela murmurou, quase sem abrir a boca:

– É esse louro aí? Quanto custa?

O papagaio estremeceu.

Veio também seu Otávio, o guarda-noturno. Ele queria o louro para um netinho birrento.

– Um minutinho, pessoal. Também estou interessado na ave!

E foi chegando gente, um mais esquisito que o outro, com o recorte do jornal na mão.

Nisso, o papagaio olhou assustado para o dono e disparou:

– Seu João, sabe como chama elevador no Japão?

– Ora essa! Não sei, não… – respondeu, admirado.

E o louro:

– É só apertar o botão! AH, AH, AH!

– AH, AH, AH… Essa é boa! – riu o dono da mercearia.

Os interessados foram embora na mesma hora.

– Que enganação… “Não conta piada nem fala palavrão” – resmungou dona Gertrudes.

Seu João ficou todo sem graça, mas valeu a lição. O papagaio agora é outro, sempre simpático… Parece artista de televisão.


História publicada na Revista Recreio, da Editora Abril.
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