O barquinho enjoado
Evelyn Heine |
Era uma vez um barquinho muito, muito infeliz.
Vivia embrulhado. Tinha enjôo do balanço do mar. Era só começar a navegar e ele a passar mal, a marear. Os peixinhos riam dele e, para piorar a situação, ficavam indo e vindo à sua frente, de pura molecagem, aumentando a aflição. — Quem mandou nascer barquinho? — brincava uma gaivota. — Mas eu não nasci assim, sua boboca! Por que não me deixaram ser árvore a vida inteira, parada num só lugar, sem este vai-e-volta, sem este vem-e-vai? — reclamava o pobrezinho — Puxa vida... ai, ai, ai! | |
Seu dono, um velho pescador, nem notava o problema do coitado. Todo dia, de manhã cedo, saía atrás de peixe, sem domingo nem feriado. Não tinha folga o barco enjoado.
Mas um belo dia, tudo mudou! |
Todo contente, o pescador apareceu com um barco bem novinho. Era amarelo e cor de vinho.
E o outro se aposentou. Desde este dia, quanta alegria! Não precisa mais ir para o mar, nem marear. |
Fica na areia, tomando sol numa boa, olhando de longe a pescaria.
No barco enjoado o velho escreveu “peixe fresco todo dia” para atrair a freguesia. Esta sim era a vida que ele queria! |
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