Lolita Beretta

Autora dos quadrinhos Melancolita

"A delícia dos quadrinhos, a meu ver, é que
mesmo as dificuldades vêm como um respiro."

(Lolita Beretta)

Quando você começou a fazer suas histórias em quadrinhos e por quê?
Eu comecei a desenhar as historinhas no início desse ano, ainda em fevereiro. Acho que começou principalmente pela vontade (e mesmo a necessidade!) de colocar de uma forma simples, sem grandes elaborações, várias ideias, sentimentos, comentários e brincadeiras que me ocorriam no dia-a-dia. Coisas que ocorrem pra todo mundo, acho, e que a gente às vezes resolve na conversa com alguém, mas que em outras se perdem e ficam só dentro da nossa cabeça.

Antes você fazia poesias, não é?
Sim, escrevia poemas, coisa que na verdade sigo fazendo. Mas até fevereiro, tudo isso que me ocorria ia parar na poesia, o que às vezes ganhava algum humor, mas em muitas outras virava algo mais denso. E de repente desenhar quadrinhos foi uma forma de dar outra direção para esses sentimentos nem sempre tão leves em relação à vida, ao mundo, aos conflitos internos, também. A delícia dos quadrinhos, a meu ver, é que mesmo as dificuldades vêm como um respiro.

Você também desenha as tiras?
Sim, eu crio e desenho. Inclusive, isso de me aventurar desenhando, esse processo de descobrir, aprender, errar, tem sido algo bem interessante.

Qual foi a primeira delas?
Na verdade, não sei dizer qual foi a primeira, mas as primeiras. Porque o que aconteceu foi que, no dia em que peguei papel e caneta pensando “vou criar uns quadrinhos”, vieram muitas ideias, e criei mais de trinta em uma única tarde!

Nossa! Trinta de uma vez?
Sim! Quando terminei, pensei: “caramba, estava tudo aqui guardado, só esperando eu me mexer pra poder existir!” Algumas eram sobre situações de entrevistas de emprego, outras de uma escritora fazendo uma foto para a divulgação do livro, que eram situações que estavam no meu radar ou no meu imaginário. Nesse dia fiz também uma série sobre uma loja que tem um nome curioso, pela qual eu passava quase todo dia, e sempre me vinha uma brincadeira na cabeça. Várias que fiz esse dia até hoje ainda não foram para a página, mas estão entre as minhas favoritas, talvez pela lembrança desse primeiro rompante.

Você pode mostrar aqui alguma destas tiras pra gente?
Posso sim! Você vai ver inclusive que o desenho ainda era bem mais tosquinho.

E o nome Melancolita? Veio na sua cabeça ou deu trabalho para inventar?
Veio quase naturalmente e eu logo abracei. Achei que ele conseguia dar o tom do tipo de humor e de situações que acabam me ocorrendo. Isso da terminação “ita”, que é ao mesmo tempo o final do meu nome e meu apelido na família (Lita), mas que é também um diminutivo, em espanhol, para a palavra “melancolia”, me agradou porque faz com que quebre o peso da palavra. É uma forma de brincar com essa profundidade toda, de trazer alguma leveza para os draminhas que estão sempre nos rodeando.

O que você estudou? Tem outro trabalho?
Eu estudei Letras, fiz mestrado na área e depois fiz uma pós em Jornalismo. Mas sou cheia de paixões e bastante inquieta, então estou sempre tentando combinar as atividades que me atraem em projetos na área cultural e de comunicação. 

Onde você nasceu? Onde mora hoje?
Nasci em Porto Alegre e moro em São Paulo há quase seis anos já.

Seus temas preferidos são os passarinhos?
Pois então! Eu me vi muito envolvida com a observação de pássaros desde junho e esse encanto, claro, acabou aparecendo nas tirinhas. Mas eu não diria que são o meu tema preferido, embora tenham acabado monopolizando as últimas criações. Acho que os pássaros me permitiram brincar com vários dos temas que gosto, que são as pequenas contradiçõezinhas nossas de cada dia, ou os dramas que inventamos na nossa cabeça, as inseguranças, algo assim. Enfim, acho que acabei usando essa ideia dos pássaros, que está muito presente para mim, como uma forma de acessar outras coisas.

Você admira algum autor de histórias em quadrinhos?
Bom, na vida, o encantamento mais profundo que tive com quadrinhos foi com certeza a turma da Mafalda, do Quino. Gosto especialmente dos personagens Miguelito e Filipe. Acho que esses personagens da infância descobrindo e lidando com o mundo "lá fora", com o mundo adulto, são incríveis para falar dos grandes temas da vida. Mesmo os temas mais duros, os grandes nós da existência, vêm com um sorriso no canto da boca e no fundo da alma. Isso também aparece nas histórias do Calvin e Haroldo, e do Peanuts, do Schulz, outros que sigo lendo, sempre que posso. Dos atuais, gosto de acompanhar alguns no Instagram, mas é tanta coisa ao mesmo tempo que não consigo sentir a mesma conexão que senti e sigo sentindo com esses personagens antigos, talvez pelo ritmo, pelo formato da leitura.

Você tem vontade de publicar um livro com suas tiras e histórias?
Tenho, sim, muita! Acho que é uma questão de tempo, ainda, mas alguma hora deve acontecer e vai ser uma delícia.

Qual era sua brincadeira ou passatempo preferido na infância?
Não sei dizer qual era a preferida de todas, porque eram sempre várias possibilidades, mas lembro de gostar muito de colecionar e trocar papéis de carta com amigas.

O que você aconselha pra quem quer fazer quadrinhos como você?
Eu aconselho que tenham um caderninho à mão para anotar as ideias que podem surgir nos mais diversos momentos. Mas aconselho, especialmente, que se permitam se divertir no processo.

Veja algumas tiras da Lolita aqui:
Tiras da Melancolita

Novembro de 2020



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