Desde quando você desenha?
Eu desenho desde criança. Minha mãe sempre diz que quando ela queria que eu parasse quieto, me dava um caderno e pronto. Eu ficava um tempo lá sossegado. E tenho estes cadernos até hoje!
Nossa! Você guardou tudo? Quantos são?
Muitos. Tenho muitos cadernos em São Paulo e em Camanducaia, mais de vinte. Guardo todos e, às vezes, paro para olhá-los. Mas desenho sempre que tenho algum papel e caneta na mão. Esses papéis soltos só guardo quando gosto muito do desenho. A maioria acabo jogando fora... ou não teria mais lugar em casa.
É verdade que você anda sempre com um caderninho e desenha o tempo todo?
É verdade. Estou sempre rabiscando um caderninho. Acho bom para não deixar as ideias escaparem.
Você costuma dizer que todo mundo sabe desenhar, não é?
Sim. Todo mundo desenha quando é criança, mas depois para. Os desenhistas continuam. Com o tempo de prática cada um vai descobrir o seu estilo. É como um músculo que vai se desenvolvendo. Acho que não existe desenho feio. É uma forma de expressão, é como falar. E cada um fala do seu jeito.
O que você desenhava, quando era criança?
Ah, eu desenhava desde a minha família e amigos até os personagens da Escolinha do Professor Raimundo, por exemplo. Minha geração via muita tevê, daí tudo isso virava ilustração.
Então você gostava de desenhar gente.
É verdade. E gosto até hoje. Na escola eu fazia os colegas, os professores... Eu inventava meus personagens, como o Johnny Goiabada, de uma história em quadrinhos que fazia com uns 13 anos. Mais tarde, teve o fanzine Jecatotal, com uma turma de amigos.
O que você gostava de ler?
Na infância lia muitos livros infantis (Alice, Sítio do Pica-pau Amarelo etc) e os quadrinhos da Turma da Mônica e Disney, que tinha aos montes no sítio dos meus primos em Camanducaia.
E quando você decidiu que esta seria sua profissão?
Quando eu tinha uns 12, 13 anos. Eu sou de Camanducaia, uma cidade pequena de Minas Gerais. Eu juntava um dinheirinho e ia pra Bragança (Bragança Paulista) comprar CDs e revistas. Lá, numa prateleira de revistas antigas numa loja de R$1,99, vi umas revistas diferentes das que eu sempre lia, feitas pelo Angeli, Laerte... e fiquei impressionado. Foi uma revolução pra mim. Percebi que existiam novas formas de se expressar com o desenho. Achei incrível que algumas pessoas ganhavam a vida produzindo aquilo e pensei: “É isso que eu quero fazer da minha vida.”
Que faculdade você escolheu?
Quando fui prestar vestibular, li algumas entrevistas de ilustradores e quadrinistas. A maioria dizia que o que pagava as suas contas era publicidade, que era difícil ganhar a vida com quadrinhos. Daí escolhi Publicidade e Propaganda.
E conseguiu trabalho?
Sim. Fiz estágio na Revista da MTV, trabalhando na arte, e foi muito bom porque eu gostava (e ainda gosto) muito de música. Até tive banda quando era adolescente. Mas sempre toquei mal. Rsrs.
Depois fui assistente de outros artistas, como o Elifas Andreato, trabalhei na revista Almanaque Brasil, em outras revistas e estúdios. Já fiz cartazes de cinema, logotipos, desenhos de livro infantil. O bom de trabalhar com design e ilustração é que dá para fazer muitas coisas diferentes e sempre aprender novidades.
E os quadrinhos?
Mesmo trabalhando em diversos lugares, nunca deixei de fazer histórias em quadrinhos e publicar na internet e em zines (ou “fanzines”). A internet permite que você mostre seu trabalho, você desenha e na hora já publica para as pessoas verem. Mas também gosto de vê-los impressos.
Explique pra gente o que são “zines”, por favor.
São publicações que você mesmo faz e vende, sem editoras. São chamadas de publicações independentes e existem feiras só delas. Em 2014, a convite de uma amiga, eu participei da minha primeira feira assim, a Feira Plana, com meu zine “Tempos Modernos”.
Qual é seu trabalho hoje?
Meu cargo tem um nome um pouco pomposo: estrategista visual. Mas, basicamente, faço a parte visual das campanhas de uma agência focada em impacto social, chamada Purpose. Faço ilustrações, animações e vídeos para redes sociais, impressos e TV.
Você continua estudando desenho?
Sim. Estou terminando um curso de animação (desenhos e figuras que se movimentam). É uma pós-graduação, na verdade. E estou desenvolvendo um curta-metragem como trabalho de conclusão do curso.
Que livro infantil você ilustrou?
Em 2015 ilustrei o livro infantil “2 Gatos”, da Editora Papagaio, escrito pela Evelyn aqui do Divertudo. E já fizemos, juntos, oficinas de quadrinhos em escolas. Ela falando do texto e eu, do desenho. Eu adorei esse contato com as crianças. Foi muito legal.
|