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ENTREVISTA |
"Deixe que a poesia o encontre. E, principalmente, aprenda a olhar as pequeninas coisas como grandes."
(Rosane Villela) |
Conte onde e quando você nasceu. Como era sua casa na infância? Nasci no Rio de Janeiro, em 1953, irmã-gêmea de outra menina, com quem brinquei muito, como também junto aos meus dois irmãos, meninos. Um, três anos mais velho, e o inventor das brincadeiras, a quem seguíamos, e outro, um ano mais jovem. Assim, éramos quatro crianças, numa casa feliz, cheia de música, brincadeira, discos que contavam histórias, livros, muitos parentes e amigos. Quatro irmãos que viraram cinco com a chegada de mais um menino, quando eu tinha 11 anos. |
Como é aquele seu texto que fala dos vaga-lumes, neste mesmo livro?
É lindinha a imagem dos vaga-lumes , não é? O pai da menina chega à casa de campo para buscar a filha, terminadas as férias escolares, e logo se sente livre como um beija-flor. Corre pra lá e pra cá, pousa como um passarinho no varal onde pendura a gravata do trabalho, e convida a filha para catar luas verdes com dedos de jardim. O que fiz nesse texto foi transportar a imagem que se fixou em minha mente desde que eu era criança. Na fazenda de meus pais, brincávamos de pegar vaga-lumes e eles eram, pra mim, na escuridão da noite, como "luas verdes" que pipocavam. Era mágico! Quanto aos "dedos de jardim", essa imagem me ocorreu quando me lembrei do cuidado e sensibilidade que tínhamos de ter para não espantar e nem machucar os vaga-lumes. Você acertou em cheio, Evelyn, em me perguntar sobre esse texto. Confesso que é um de meus preferidos. |
É verdade que você queria fazer faculdade de Música?
Sim, quis fazer faculdade de Música ao invés de Letras, mas meu pai não deixou porque achava que eu ia morrer de fome como pianista. Naquele tempo não discutíamos ou, pelo menos, eu não discutia. Mas ele aceitou que eu colocasse Música como segunda opção, no segundo semestre. Passei em Letras no primeiro semestre e, então, continuei meus estudos com piano paralelamente a Letras. E, como eu gostava de literatura também, foi fácil seguir adiante. A alma da musicista sempre permaneceu comigo. Uma obra que escrevo é como uma partitura musical. Inconscientemente, toco a obra como um instrumento, pelos sons das palavras, que são como as notas musicais para mim. A música é tão presente em minha vida que até retomei os estudos de piano. E estou amando ser aluna novamente! |
Você já pensou em transformar um livro seu numa peça musical?
Numa peça musical, como partitura de música, eu nunca pensei, mas acho que é uma boa ideia. Mas já pensei em transformar peças clássicas musicais em histórias. Assim eu fazia quando era criança ao ouvir a minha professora de piano tocar. Volta e meia, também, me pego a imaginar que alguns de meus textos poderiam virar uma peça teatral ou mesmo um desenho animado. |
Você acha que os livros de papel vão acabar?
Não. Somos muitos no mundo e há muito tempo se discute que livros de papel iriam acabar. Mas há ainda quem não prefira ler na tela de computador. Eu, por exemplo, prefiro ter o livro nas mãos, como extensão de meu próprio corpo. Preciso sentir o livro, escrever nele, sublinhar as frases e imagens de que gosto, e, como leitora-autora, observar a maneira como foi escrito. Se, por acaso, há um livro que me interessa tanto na internet como em papel, recorro ao papel. Mas sou curiosa também. Já li livros na internet, vários, aliás, como os de Ana Suzuki, uma amiga querida, excelente escritora da, digamos, “velha guarda”, e gostei bastante. Os que li não eram grandes. Se fossem, talvez não os lesse. Não me agrada o fato de não ter como marcar fisicamente onde minha leitura parou... |
Qual é sua dica para quem quer fazer poesia?
Deixe que a poesia o encontre. E, principalmente, aprenda a olhar as pequeninas coisas como grandes. |
Qual é seu passatempo preferido?
Entre os meus preferidos, incluo a leitura de um bom livro; ver filmes na TV com o marido e filhos; ir ao teatro e cinema; ouvir música; tocar piano; andar no calçadão da praia ou na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas; cuidar das plantas da varanda de meu apartamento; ver fotos de meus filhos quando pequenos, assim como as minhas e as fotos antigas de meus pais, para resgatar a história da família. As possibilidades que a vida nos oferece são muitas, por isso, é difícil falar apenas de um passatempo. |
Qual foi o elogio mais bonitinho que ouviu de um leitor? Agora me lembro de dois: recentemente, uma menina que estava no Salão do Livro Infantil, no Rio de Janeiro, me disse que gostou tanto da história que eu contava (do livro Menina-Menina, Princesa de Lama...), que ela queria ser igual à menina da história, para poder se transformar em outras. E, quando eu perguntei em quais delas, ela me disse assim: “Todas! A princesa de lama, a menina-estrela, a menina-cometa, a menina que tinha a lua no peito, a menina de laço de fita, a menina de rio e a menina de mar.” Ela me listou as meninas, pensando e numerando-as com os dedinhos, uma imagem inesquecível! |
E qual foi o outro?
Recebi uma cartinha linda de outra menina chamada Louisa Lopes, sobre o Apanhando a Lua.... Ela fez um mini-livrinho. Na capa e na contracapa, fez desenhos do céu. E, dentro, ela escreveu a sua opinião sobre o livro, que transcrevo abaixo: “As histórias são muito legais, pois falam de aventuras de crianças, da imensidão do mar, de uma menina que fala com a dona dos ‘bobs’ no cabelo, e era sempre um mistério que ia acontecendo. Adorei as ilustrações, pois eram alegres e as cores eram vivas.” O que posso querer mais? É tão bom poder atingir o coração das crianças! |
Você escreve suas poesias à mão ou no computador?
Atualmente, tudo no computador: textos, poemas, contos, crônicas e resenhas. Antes, não; eu tinha um bloquinho sempre à mão para anotar as ideias ou frases que vinham a minha mente ou escrevia em folhas soltas. Prefiro o que me ocorre agora: sento diante do computador para ver e-mails, ir ao meu blog , visitar sites e outros blogs de literatura e notícias, e rever meus textos. Essa espécie de ritual funciona como um aquecimento para a criação e, graças a Deus, dá certo. |
O que dá mais saudade da infância?
De ser criança! De poder andar de patins e de bicicleta no quarteirão das ruas onde eu morava, sem risco de ser roubada. De ir com meus irmãos à lanchonete da esquina para comprar o maior sunday de chocolate, após juntar as moedas das quatro semanas que meus pais nos davam; de ouvir, sentada no chão da sala e com as pernas cruzadas, junto aos meus irmãos, histórias contadas pelo disco que rodava na vitrolinha que ficava no centro da roda formada por nós quatro; de aprender a dançar o "twist" com minha prima mais velha que nós; de brincar na fazenda de meus pais; andar a cavalo; subir na jabuticabeira; de... Ai, que saudade! |
Qual é a sua frase preferida?
É “O humor salva”. Como já disse numa entrevista, com humor a gente fica mais disponível para a vida e tudo fica mais fácil. A vida merece ser bem vivida, não é? Talvez por pensar assim, ao escrever, transporto o humor para as minhas obras. Para que o leitor se divirta, assim como eu, e transforme a sua vida em momentos melhores. |
Setembro de 2011
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