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ENTREVISTA |
"Escrevo o tempo todo! Na fila do banco, no ônibus, em congestionamentos, na espera da consulta médica e por aí vai."
(Raquel Rocha) |
Quando foi que você começou a escrever suas histórias?
Na verdade eu sempre gostei de escrever. Na adolescência fazia peças teatrais na escola, escrevia poemas e pequenas histórias. Porém, mesmo gostando de escrever, não me imaginava uma escritora, aliás, ainda não sou (risos). Há cerca de uns sete anos comecei a levar a coisa a sério. |
Como foi isso? |
O primeiro livro que escrevi enviei a várias editoras e foi recusado por todas. Talvez não estivesse muito bom mesmo. Quando escrevi o Meia... Meia-noite, não queria passar pela mesma frustração, então resolvi publicá-lo por conta própria. |
Dá para explicar um pouco sobre o título do livro para a gente? Ele é bem misterioso, não?
O nome do livro é um tanto estranho, sim, mas tem lógica, rsrsrs. Um homem desapareceu à meia-noite em um cemitério. No dia seguinte a única coisa que encontraram foi a meia da vítima e um bilhete. O corpo jamais foi encontrado. Então, a viúva resolveu enterrar a meia no lugar do corpo. Por isso o nome: Meia... Meia-noite. É uma história de suspense e muitos mistérios. |
Legal... você pode contar só mais um pouquinho?
Posso, claro. O homem que desapareceu no cemitério, Mário, era casado com Valquíria, que após a morte do marido casou-se com Flávio, um agente funerário e o melhor amigo de Mário. Flávio não se conformou com a morte e o sumiço do corpo do melhor amigo, por isso fez com que a viúva contratasse o melhor detetive para solucionar o caso. Daí surge o detetive Raul Mahckal que arrisca a própria vida para tentar solucionar um caso que esconde mais segredos do que supunha. |
Quando criou Meia... Meia-noite já sabia o começo, meio e fim logo de cara ou o enredo foi surgindo? |
A única coisa que veio em minha mente foi o nome do livro, que ficou martelando dias e dias. É impressionante escrever uma história! Parece que os personagens têm vida própria e que guiam o autor ao escrevê-la. | Foi o que aconteceu com o Meia... Meia-noite. Por mais que tivesse uma história definida em mente, ela foi se desenvolvendo e até tomando rumos que eu mesma não tinha imaginado. |
Como você faz a divulgação de seu livro?
A divulgação é a parte mais difícil para um autor independente. Fiz o lançamento em uma universidade, conversei com o reitor e tive autorização. O bacana foi que no dia do lançamento acontecia um congresso de psicologia no mesmo local, fato que triplicou o número de “convidados” e o lançamento foi um sucesso. No mais, tento divulgá-lo em escolas e no boca-a-boca. Muitas vezes funciona: foi dessa forma que três escolas o adotaram para alunos do ensino fundamental e médio. |
Você tem muito contato com os seus leitores? Eles sugerem novas histórias?
Sim, tenho contato com meus leitores. Eles me enviam e-mails, até cartinhas carinhosas. Isso recompensa todo o esforço. Recebi muitos e-mails pedindo a volta do personagem Raul Mahckal, detetive do Meia... Meia-noite. Confesso que não era minha intenção trazê-lo de volta. Mas já estou escrevendo uma nova história com as aventuras do detetive, afinal um pedido de meus leitores é uma ordem! |
Você tem filhos ou sobrinhos que inspirem seu trabalho?
Não tenho filhos e meus sobrinhos já estão grandes. Acho que me inspiro na minha própria infância e adolescência. E nas histórias que meu marido conta sobre a infância dele. Além de ser muito observadora. Olho as pessoas nas ruas, as conversas... Na verdade todo mundo tem uma história que inspira uma outra história. |
Quando você costuma escrever?
Escrevo o tempo todo! Na fila do banco, no ônibus, em congestionamentos, na espera da consulta médica e por aí vai. |
Quanto tempo demora para fazer um livro? E os desenhos? Quem faz? Depende do assunto que o livro irá abordar, porque escrever um livro também requer pesquisas e mais pesquisas. O Meia... Meia-noite, por exemplo, levei 30 dias. É pouco, tem escritores que levam até um ano. Os desenhos quem fez foi Christian Rodrigues, um artista que, em minha opinião, é um dos melhores. Se tudo der certo, quero que ele faça as ilustrações de todos os meus livros. |
Tem muitas outras histórias para publicar?
Sim, algumas já escritas e outras em mente. |
Não é barato. Tive que abrir mão de muitas coisas para realizar esse sonho. Ao optar por uma publicação independente é fundamental a escolha por uma editora séria e respeitada no mercado editorial. Tem que pesar o custo e o benefício dessa escolha. |
Como a internet tem ajudado você a divulgar seus livros?
Na há dúvidas de que a internet, por ter um longo alcance, abriu um mundo de oportunidades para os “anônimos”. A criação de meu site, por exemplo, tem ajudado muito na divulgação. |
Onde você nasceu? Como foi a sua infância?
Nasci e resido em Guarujá – litoral paulista. Minha infância foi maravilhosa, creio que essa é a melhor fase da vida. Sou caçula e meus irmãos são bem mais velhos. Tinha uma amiguinha fantástica que jamais esquecerei. Juntas, brincávamos o dia todo, subindo em árvores, brincando de escolinha, casinha... era um barato! Minha amiga era perfeita, talvez, por ser imaginária. Sinto saudades da Keila... |
A Keila era mesmo imaginária, perfeita demais para ser real, rs. Era algo mágico, fantástico mesmo. Minha mãe diz que desde que comecei a falar sentava-me num banquinho, no quintal, e passava horas conversando com “ninguém” (pra eles, é claro, pois, pra mim ela estava lá o tempo todo. Mas, não se preocupe, não via ninguém. Só imaginava.). Era algo tão forte em minha imaginação que ninguém podia dizer que ela não existia. | Na hora do almoço fazia minha mãe colocar a comida da Keila, na hora de dormir fazia ela dar boa noite para Keila etc. E se não queria tomar banho, dizia que a Keila era quem não queria, pode? Um barato. Pobre mãezinha, tinha que entrar em meu mundo imaginário, rs. Isso durou até meus sete anos, graças a Deus! Engraçado é que nunca conheci ninguém que tivesse amiguinha imaginária. |
Acho que isso aconteceu porque tive uma infância solitária, não tinha outras crianças para brincar. Talvez, Freud explique, rs! |
O que você gosta de ler?
Meu gosto literário é bem eclético. Gosto muito de livros policiais. Agatha Christie e Marcos Rey são os meus escritores prediletos. No momento estou lendo O Livreiro de Cabul, de Asne Seierstad. |
Qual é o seu passatempo preferido?
Adoro seriados de investigação. Fico tentando decifrar o mistério e quando acerto, fico toda exibida! |
Deixo-os em livrarias por consignação, porém só dentro do Estado de São Paulo. Também vendo em meu site através da livraria da editora que contratei. Meu objetivo é encontrar uma distribuidora. Isso facilitaria muito, além de alcançar circuito nacional.
www.raquelrochaescritora.com |
Que conselho você dá para alguém que quer seguir o seu exemplo?
Que pense em todos os prós e contras. Uma vez começado, não dá pra voltar atrás. O caminho é árduo, estreito e longo. É preciso que a determinação seja maior do que o sonho. Mas se, ainda assim, aceitar o desafio, desejo boa sorte! |
Março de 2008
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