Qual era o seu sonho, quando
criança?
Dos 12 aos 17 anos, eu queria muito ser jogador de futebol e vestir
a camisa oito do Fluminense. Sonhava com isso de verdade. Dormia de joelheira
e uniforme. O que eu mais queria era entrar no Maracanã lotado,
escutar a torcida gritar o meu nome, fazer um gol decisivo aos 44 minutos
do segundo tempo, correr demais, me ralar demais, suar demais pelo meu
time, jogar futebol até não agüentar mais. E as pessoas
me incentivavam.
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Diziam que eu jogava bem no meio campo. Eu fazia
muitos gols, principalmente de trivela. Mas um problema de calcificação
no joelho me impediu de jogar profissionalmente. Bem, pelo menos eu boto
a culpa no joelho, né? Melhor assim. Aí acabei fazendo jornalismo,
para trabalhar como repórter esportivo. Cheguei até a cobrir
futebol na Rádio MEC, mas o meu negócio era mesmo escrever.
E, enquanto trabalhava no jornal O Globo e na Tribuna da Imprensa, ficava
sempre matutando algumas histórias. |
Hoje continuo batendo uma bolinha, mas não corro como antes.
Agora corro atrás das palavras. Mas fico triste quando vejo que,
atualmente, muitos meninos dizem que sonham em ser jogadores de futebol.
Só que, na realidade, quando eles começam a falar, a gente
vê que não sonham com isso. Sonham com a fama, com o dinheiro,
com as mulheres, com as badalações, com a glória.
Sonham com tudo, menos em jogar futebol. Esse é um sonho pálido,
sem prazer, só com finalidades. É um sonho de mentira, sem
arrepio. E o sonho, para ser de verdade, tem que arrepiar.
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