Entrevista com Cristiane Velasco

Cris Velasco "Contar e ouvir histórias são formas de brincar."

Cristiane Velasco
Autora e Contadora de Histórias

Como você começou a contar histórias para as crianças?
Comecei a me aventurar a contar histórias em 1998, em um estágio que fazia na Casa Redonda, espaço de Educação Infantil onde trabalhei por 12 anos, brincando com crianças.
Hoje ainda dou cursos para professores lá.
Qual foi o seu primeiro projeto?
Ele se chamava "Dançando Histórias". Nele misturei histórias, cantigas e danças tradicionais do Brasil, o Flamenco e o estilo Odissi de dança clássica hindu. Eram três espetáculos: "Contos Indianos", "Contos Flamencos" e "Contos Brasileiros".
Atualmente, o que faço é uma combinação destas experiências, misturadas no "Caldeirão" Brasileiro.

Que tipo de histórias você conta?
Costumo contar "histórias de boca". Este é o modo como muitas crianças chamam esse tipo de história, que a gente conta sem ler, cada um inventando um pouquinho a partir do que escutou. Os contadores populares do Brasil também chamam assim essas narrativas que vão passando de geração a geração e que fazem parte da nossa cultura. A Cultura Popular e a Cultura da Criança são minhas fontes de inspiração!

As histórias são só do Brasil?
Conto mitos, lendas, contos, "histórias de boca" do mundo inteiro. Mas sempre dou um "jeito brincante brasileiro" mesmo nas que vêm de outros países. Adoro as brincadeiras que fazem parte do universo das crianças e as brincadeiras que pertencem às tradições do nosso povo. Gosto de colocar muitas dessas brincadeiras nas histórias que conto. Elas também são narrativas de brincar passadas de geração em geração. Um trava-língua, uma adivinha, uma cantiga de roda ou uma canção de ninar, por exemplo, são pequenas "histórias de boca"!
Também adoro inventar minhas próprias histórias.


Como as crianças inspiram você?
Elas me inspiram através do Brincar, que é a expressão das crianças pequenas. São pura presença e inteireza. Elas são a música, elas são a dança, elas são a história. Na verdade elas são tudo isso ao mesmo tempo. São "Divertudo"!
Fui percebendo que tudo aquilo que eu procurava reunir dentro de mim as crianças já traziam por inteiro. Então passei a aprender com elas. Como? Brincando. Assim as crianças foram despertando imagens, gestos, cantos e histórias em mim.
E, principalmente, me ensinando a "lógica do brincar" que junta tudo isso em um mesmo rendado.

O rendado da fantasia?
Isso mesmo. No universo da Cultura da Criança a boca pode estar no pé, na mão, nos olhos, no chão. Um tecido pode dançar e virar asas, manto, bebê, balão...
Contar histórias é minha arte rendeira, minha grande brincadeira!
É verdade que você escreve livros?
Tenho vários escritos, mas publicado, por enquanto, apenas um, "Maria Sabida e João do Uia", pela editora Panda Books. É um Livro-CD com belíssimas ilustrações da espanhola Sylvia Vivanco. Fizemos há pouco nova impressão e nesses exemplares, ao invés de CD, o livro vem com Qr Code para que as crianças possam ouvir a história contada "de boca". Eu fazia isso quando era menina, adorava a "coleção disquinho" que escutava mil vezes em uma vitrolinha cor de laranja!

Como surgiu a ideia deste livro? O "Maria Sabida e João do Uia"?
Foi em 2007, brincando de faz-de-conta com meus alunos de Educação Infantil, a partir do conto tradicional norueguês "A princesa que sempre queria ter a última palavra". Li esta história em um livro precioso chamado "Askeladden e outras aventuras" e contei "de boca" para as crianças, do meu jeito. Depois que ouviram, começaram a brincar a história e assim foi nascendo a nossa "versão brasileira". Digo "nossa" porque as crianças participaram do início ao fim e aumentaram muitos pontos neste conto!

O que você aconselha para os adultos que querem contar histórias para as suas crianças?
Que escutem as histórias que as crianças têm para contar. Que escutem os contadores tradicionais contando suas histórias. E, principalmente, que mergulhem em suas próprias histórias de vida, memórias do passado. E do futuro, que são a grande aventura presente em cada um!
"Eu tava lá, minha gente..." Assim os contadores populares costumam dizer no final das narrativas. Assim devemos nos colocar nas histórias que contamos. Toda técnica é consequência dessa presença, desse "eu tava lá."

O que você gostava de fazer quando era criança?
Sempre gostei de dançar e brincar de faz-de-conta. Fazia teatros para minhas irmãs mais novas. Inventava cenários e adereços. Quando aprendi a escrever, comecei a passar horas com meus caderninhos e então os livros viraram meus amigos de infância e adolescência.
Onde você nasceu e quando?
Nasci em São Paulo, Capital, em 1972. Mas passei o tempo bom da infância em um sítio no Embu das Artes. Todo final de semana ia com minha família para lá...
O que você acha do excesso de tecnologia na vida das pessoas? E das crianças?
Esta é uma longa história! Penso que este excesso é capaz de exercer efeitos negativos sobre qualquer pessoa. Quando a tecnologia é usada como a principal ponte para o mundo, a gente acaba se transformando em mero expectador de nossa vida...
No caso da infância, a superexposição às telas dos eletrônicos é especialmente nociva. A maioria dos pais não supervisiona este uso e as crianças acabam absorvendo abusivamente uma programação que apela para o consumo, o erotismo precoce e a violência.
Bombardeadas pelo excesso de estímulos tecnológicos, elas sofrem restrição de movimentos e uma espécie de "overdose". Podem apresentar grande desorganização interna, justamente em uma época em que deveriam aprender brincando com o corpo todo!
Sem dúvida alguma, a tecnologia veio para ficar e justamente por isso penso que, cada vez mais, deve ser pensada a serviço da infância! O cuidado e a proporção correta, equilibrando o tempo diante das telas, a qualidade do que se assiste e o tempo de brincar deve ser a medida para a vida saudável das crianças.
As telas não podem privar as crianças da companhia de sua família, dos amigos e do contato com a natureza. Muito menos "roubar" delas o exercício fundamental de criação interna que é a capacidade de imaginar com a "tela de dentro"!
Onde você costuma se apresentar?
Costumo me apresentar na rede Sesc, em Centros Culturais, Escolas, Livrarias e Bibliotecas, entre outros. E conto histórias para crianças toda semana na Ciranda Educação, escola maravilhosa em Cotia, onde minha filha Dora brinca desde os dois anos de idade.

Julho de 2017



Outras
entrevistas

Passe para
a frente!

Voltar à Home Page Baú de BrincadeirasBaú de
Brincadeiras
Será Ilusão?Será
Ilusão?
Como se faz?Como
se faz?
Jogos VirtuaisJogos
Virtuais